Eu continuo a aplicar e a ensinar o que aprendi com a Análise Estruturada de Sistemas. Essa atitude provoca surpresa e, alguma vezes, revolta: “Por que eu devia estudar isso? O que você vê de útil nesse conhecimento ultrapassado? Eu te odeio!”
O perspicaz Alexandre Gomes já tinha me ensinado sobre o ódio entre as tribos da tecnologia. Ele alertava: alguns fazem do seu conhecimento trincheiras de disputas e seguem padrões de comportamento de extremistas religiosos. Se eu desenvolvo usando métodos ágeis, eu odeio o pessoal quem desenvolve com outros paradigmas (e vice-versa!). Se sou programador Java, nem me venha falar de PHP!
O pensamento mais equilibrado e produtivo de todos nós deveria ser: conhecimento abre oportunidades e amplia o nosso leque de opções na solução de problemas. Assim, não deixe que a sua valiosa especialização termine por te cegar para alternativas poderosas. Tenha a sabedoria de não desprezar o que já se sabia há alguns anos atrás pela simples ditadura do novo. Lembre-se:
Se você só conhece martelo, todos os pregos se parecerão parafusos!
Quer dizer que você precisa olhar para sua caixa de competências e encontrar diversas ferramentas e ter a competência de decidir pela mais adequada.
Em termos práticos:
Na Engenharia de Requisitos, para entendermos o problema do cliente um excelente ponto de partida é modelar os processos de negócio que poderão ser automatizados. Você pode dominar apenas uma técnica, se apaixonar por aquela da moda, ou incorporar no seu leque de competências alternativas como:
- Business Process Modeling (BPM)
- Fluxograma
- 5W2H
- Lista de verificação (check list)
- Ciclo do PDCA
- Diagrama de Fluxo de Dados (DFD)
– “Você disse DFD? Aquele da Análise Estruturada? Aquela Análise de Sistemas da década de 1980? “
Sim, o DFD é uma ferramenta poderosa para modelar processos. Também é relativamente simples, pois se vale apenas de 4 representações gráficas: entidades externas, processos, fluxo de dados, e depósitos.
Além disso ela já foi empregada com muito sucesso em discussões de modelos com usuários finais. Claro que o usuário final não precisa saber desenhar um DFD, mas não é difícil entender o seu significado e validar a sua representação.
– “Você não entendeu! Eu odeio a Análise Estruturada!“
Diante dessas manifestações semelhantes de pouco adianta lembrar dos sistemas legados. Existe uma infinidade linhas de código em execução e com alto desempenho em bancos, tribunais e órgãos públicos. Elas foram construídas de acordo com a concepção da Análise Estruturada, tendo como berço a modelagem dos seus processos de acordo com a técnica dominante no passado.
Então lanço à pessoa desconfiada a pergunta: Você conhece a Análise Estruturada? Não me refiro aquele conhecimento de poucas linhas de leitura. Estou pensando na leitura mínima de 2 ou 3 livros sobre o tema (Gane e Sarson, DeMarco, Yourdon).
Adivinha qual é a resposta: Não!
Nesse momento, lembro-me de alguns críticos do cinema nacional. Ao serem indagados sobre sua avaliação sobre o último lançamento brasileiro, a resposta desse tipo de crítico costuma ser:
“Não vi e não gostei“.
Roberto Paldês é pesquisador em Engenharia de Requisitos e professor universitário. Tem graduação e pós-graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Cursou o Mestrado em Educação e o MBA em Gestão Pública. Leciona na Graduação no Cursos de Administração e no Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do UniCEUB. Na mesma instituição é professor e coordenador dos Cursos de Pós-Graduação presenciais: MBA em Gestão Empreendedora em Projetos, MBA em Logística, MBA em Gestão Pública. Endereço Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0464191770045460 . Endereço no Linkedin https://www.linkedin.com/in/roberto-paldês-54a625a4